Em Porto Velho, Rondônia, a fumaça provocada pelo fogo dos incêndios florestais, de tão intensa, passeia rente ao chão. Falta visibilidade até para os motoristas. “Ontem, durante uma volta ao centro, tive a sensação de que a fumaça estava dentro do carro. É perturbador”, declarou a recepcionista, que preferiu não se identificar.
No domingo [25], a fumaça foi tão presente que o sol desapareceu antes do poente habitual. A vista do rio Madeira, cartão-postal da capital rondoniense, foi encoberta por conta da cortina espessa, denunciando que o meio ambiente está em risco. Nesta segunda-feira [26], o problema se repetia. É que o vento ajuda a propagar o fogo e a fumaça com mais rapidez. “Se não parar de tocar fogo, não tem como os incêndios acabarem”, pontuou a ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
A intensidade dos registros já vem levantando suspeitas. O governo federal acionou a Polícia Federal [PF] após a abertura de 31 inquéritos que investigam ações criminosas dos incêndios na Amazônia, Pantanal e em São Paulo.
Em Rondônia, o fogo vem se alastrando desde julho. Imagens de satélites do Inpe e Nasa já focalizaram diversos focos de incêndios pelo estado. O ar também já foi classificado como um dos piores da América Latina. Para os moradores, a impressão é de inércia pelas autoridades locais.
“Simplesmente a fumaça paira por essa capital. Estamos respirando fumaça e você não observa a atuação de órgão nenhum, principalmente os responsáveis: cadê os políticos que regem os órgãos deste estado? Provem que exista alguma ação acabando com os incêndios”, responsabiliza o estudante J.N.K.
Na semana passada, a sensação de “inércia” das instituições de Rondônia frente a um combate efetivo contra o fogo fez com que o Ministério Público Estadual [MPRO] chamasse os órgãos para atuar na responsabilidade que lhes cabe. Do encontro, a única certeza do MP, destacada nas palavras do promotor de Justiça Pablo Hernandes, foi que, ainda que uma ação de combate aos incêndios no estado existisse, não estava à altura do que o momento exigia.
Enquanto isso, Rondônia, Amazonas e o Pará continuam pontuando como os maiores incendiadores da Amazônia. Por falar em Amazonas, o governador do estado, Wilson Lima [U.B], vem sendo cobrado em plenas redes sociais, inclusive apontado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais [Inpe] com 51,6% dos focos de incêndios registrados entre 1º de janeiro a agosto de 2024.
No estado, levantamento apresentado numa reunião no MP-RO concluiu que o fogo vem sendo ateado principalmente em reservas estaduais. A Soldado da Borracha, entre Porto Velho e Cujubim, já foi classificada como epicentro dos focos. Do problema, a população cobra nas ruas o prejuízo que demonstra a falta de governança para solucionar o cenário dos incêndios em Rondônia. “O fogo é o resultado do afrouxamento das leis ambientais, o que acaba resultando em incentivo aos crimes contra a floresta. Da irresponsabilidade pelos políticos locais, todos nós pagamos, inclusive eles”, conclui a coordenadora da Kanindé, Neide Cardozo.
Por Emerson Barbosa - ƒ
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