Ela nasceu em Cacoal, região central de Rondônia no meio do povo Paiter Suruí e agora se prepara para ganhar o mundo como a primeira mulher especialista não só na degustação, mas também na produção e preparo do café. Seu nome é Celeste Paytxayeb Suruí.
Distante do stress e dos grandes centros financeiros, Celeste Paytxayeb Suruí, do povo Paiter Suruí de Rondônia, vem escrevendo seu roteiro sem que ela careça estar longe das suas origens. Pelo contrário, a história por trás do seu povo é o que a faz despontar imersa em um dos cenários indígenas mais resistentes a ação de pessoas contrárias à floresta de pé.
“É uma história triste, pois marca um momento de genocídio, assassinato em que um povo lutou para sobreviver para que eu e essas pessoas que são suruís pudessem estar aqui. Nosso contato oficial com os ‘brancos’ é datado por volta de 1969 causando uma redução drástica da população de 5 mil para 250 indígenas”, explica.
Na Aldeia Lapetania, localizada na Terra Indígena Sete de Setembro em Cacoal, o plantio de café da espécie robusta (Conillon) pelos Paiter Suruí, é uma prática desenvolvida há mais de 30 anos.
O cultivo da planta é um dos poucos feitos bons deixados pelos não indígenas que foram expulsos do território após a demarcação pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1983.
Até chegar a um café hoje considerado como de excelência e premiado nacionalmente, o café plantado pelos suruís passou por algumas etapas. Em 2018 foi escolhido pelo Grupo 3 Corações para um projeto inédito que colocaria o produto na vanguarda com o Projeto Tribos. A empresa explica que “o Projeto foi idealizado pela 3corações em conjunto com importantes parceiros: Funai, Embrapa-RO, Câmara Setorial do Café, Emater-RO, Secretarias de Agricultura de Cacoal e Alta Floresta, além das cooperativas indígenas Garah Itxá, Coopaiter, Doá Txatô e Coopsur. Criado com o objetivo de promover desenvolvimento sustentável, a iniciativa é fortemente embasada em três pilares indissociáveis e interdependentes: protagonismo do indígena, proteção da floresta e produção de café de alta qualidade”.
Diante do cenário cafeeiro, @Celesty.surui era apresentada para aquilo que seria o seu futuro profissional, o café nosso de todos os dias e dele a criação de ideias inovadoras na hora de servi-lo. Tudo começou em 2021 quando ela foi convidada para participar de um curso de barista promovido pela @CoffeaTrips, em parceria com a @Kanindebrazil (Associação Etnomabiental) ocorrido aqui mesmo em Rondônia.
Orgulhosa do pioneirismo, Celeste, revela que no início, a profissão era algo que não passava por sua cabeça. Por trás, estava o preconceito perpetuado sobre o homem e a mulher indígena. “Nós indígenas ainda sofremos preconceitos na visão de muitas pessoas, de que o indígena não trabalha que ele é preguiçoso”, lamenta.
Dos grãos, a jovem ‘Paytxayeb’, nome dado pela avó que significa ‘está conosco’ abraçou a oportunidade a muito mais que os 96ºC. No início, segundo ela teve um pouco de tensão por conta das críticas que poderiam surgir ao fato de ser mulher e indígena. Mas nada disso aconteceu, pelo contrário, hoje, dois anos após ter participado da especialização, Celeste colhe os louros, ou seria os lucros do pioneirismo da mulher indígena?
Ao mesmo tempo que prepara um bom café na Aldeia Lapetania, Celeste apresenta a melhor companhia diante da bebida, a conversa, no caso dela, a história verídica do seu povo, os suruís de Rondônia praticamente dizimados após o contato com os não indígenas.
De acordo com o blog Nova Safra Food Service, a palavra barista vem de origem italiana. Trata-se de um especialista seja ele homem ou mulher, dedicado (a) no preparo de qualquer tipo de bebida a base do café. Além disso, a esse expert, as grandes empresas exigem que se submetam a reciclagem continuamente, o que inclui saber manusear equipamentos que serão usados no preparo das bebidas. Um dos princípios da profissão é ter em mente toda a cartilha que rege o símbolo do café, da safra a colheita. É justamente o ponto que já vem sendo estudado pela jovem indígena que pretende construir uma cafeteria aproveitando o potencial do complexo de Etnoturismo Yabnaby Paiter Suruí, na Aldeia Lapetania.
Do crescimento de cada árvore do cafeeiro passando pelos grãos até chegar à mesa do consumidor e, de lá ao requintado paladar dos apreciadores. Porque se tem uma coisa que o brasileiro é especialista e não abre mão é de tomar um bom café. Mas qual segredo existiria na preparação da bebida, ainda mais para quem é acostumado (a) com o tradicional cafezinho coado diretamente no coador de pano? Tem diferença, sim. É nesse cenário que surge a presença de Celeste Suruí, que na sua função de barista, a primeira indígena rondoniense e do seu país tem a palavra final.
“A história de uma semente, de um grão que foi plantado por não indígenas e que hoje tornou-se importante para a nossa sobrevivência, afinal, o café sempre foi destaque na mesa e no paladar das pessoas a centenas de anos”, finaliza.
Fonte - 07 - News Rondônia
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